quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


                   

As terras perdidas de Mu e da Lemúria

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Lemúria
A Lemúria e Mu são nomes intermutáveis para uma terra perdida que supostamente se localizava algures no Sul do oceano Pacífico. Este antigo continente era aparentemente o lar de uma cultura avançada e altamente espiritual, talvez a raça-mãe de toda a Humanidade, mas afundou-se no mar há muitos milhares de anos devido a algum tipo de cataclismo geológico. Os milhares de ilhas rochosas espalhadas ao longo do Pacífico (incluindo a ilha da Páscoa, o Taiti, oHavai e Samoa) são considerados como o que restou do grande continente de outrora. Esta teoria de uma terra perdida física e espiritualmente foi avançada por muitas e diferentes pessoas, e de forma mais notável em meados do Século XIX por cientistas que tentavam explicar a curiosa distribuição de vários animais e plantas nos oceanos Índico e Pacífico. No final do Século XIX, a ocultista Helena Blavatsky abordou o conceito da Lemúria a partir de uma perspectiva espiritual, influenciando muitos a fazer o mesmo, incluindo o psíquico e profeta Edgar Cayce. A popularização da Lemúria/Mu como um lugar físico teve início no Século XX, com o ex-oficial do exército britânico coronel James Churchward e a ideia ainda conta com muitos seguidores hoje em dia. Mas existem indícios físicos que dêem apoio às afirmações de que existe um continente antigo sob o oceano Pacífico ou estas histórias de uma terra perdida devem ser interpretadas de uma maneira diferente, como sendo o símbolo de uma mítica e desaparecida era dourada do Homem?
Augustus Le Plongeon
A terra de Mu não tem uma história particularmente longa, nem é mencionada nas mitologias antigas, como foi sugerido por alguns autores. O nome Mu teve origem no excêntrico arqueólogo amador Augustus Le Plongeon (1826-1908), que foi o primeiro a fazer registos fotográficos das ruínas do sítio arqueológico de Chichén Itzá no México. A credibilidade de Plongeon foi altamente prejudicada pela tentativa de tradução de um livro Maia chamado Codex de Troana(também conhecido por Codex de Madrid). Nos seus livros «Mistérios Sagrados Entre os Maias e os Quiches» (1886) e «Rainha Moo e a Esfinge Egípcia» (1896), Plongeon interpretou parte do texto do Codex de Troana como uma revelação de que os Maias do Yucatán eram os antepassados dos egípcios e de muitas outras civilizações. Ele também acreditava que um antigo continente, que baptizou de Mu, tinha sido destruído por uma erupção vulcânica e que os sobreviventes desse cataclismo haviam fundado a Civilização Maia. Plongeon equacionou Mu com a Atlântida e afirmou que uma «rainha Moo», originária da Atlântida, viajara para o Egipto, onde se tornou conhecida como Isis e fundou a Civilização Egípcia. No entanto, a interpretação que Plongeon fez do livro Maia é considerada completamente errada por peritos em História e arqueologia Maia. De facto, muito do que ele interpretou como sendo hieróglifos eram na verdade meros desenhos ornamentais.
Lemúria, o nome alternativo para o continente perdido, também teve origem no Século XIX. Ernst Heinrich Haeckel (1834-1919), um naturalista alemão seguidor de Darwin, propôs que uma ponte terrestre ao longo do oceano Indico (ligando Madagáscar à Índia) poderia explicar a grande difusão dos lémures – pequenos mamíferos primitivos que habitam nas árvores e que podem ser encontrados em África, Madagáscar, Índia e nas ilhas a oriente da Índia. De forma bizarra, Haeckel também sugeriu que os lémures eram os antepassados da nossa espécie e que essa ponte terrestre era «o provável berço da espécie humana». Outros cientistas bem conhecidos, tais como o evolucionista T. H. Huxley e o naturalista Alfred Russell Wallace, não tinham dúvidas da existência de um enorme continente no Pacífico que existira há milhões de anos e que fora destruído por um desastroso terramoto que o fez submergir no mar, de forma semelhante ao que teria acontecido com a Atlântida. Antes da descoberta da deriva dos continentes, entre meados e o final do Século XIX, não era estranho que os cientistas propusessem pontes e massas de terra submersas para explicarem a distribuição da fauna e da flora no mundo. Em 1864, o zoólogo inglês Philip Lutley Sclater (1829-1913) deu ao hipotético continente o nome Lemúria num artigo chamado «Os Mamíferos de Madagáscar» no The Quarterly Journal of Science, e desde então o nome permaneceu.
A civilização perdida de Lemúria/Mu foi levada de novo à atenção do público de uma forma dramática em 1931, com a publicação do bizarro «The Lost Continent of Mu» do coronel James Churchward. Este foi o primeiro de uma série de cinco livros escritos por Churchward sobre o continente perdido. No livro, ele afirmava que o continente perdido de Mu tinha-se outrora estendido de uma área a norte do Havai até às ilhas Fiji e à ilha da Páscoa. De acordo com Churchward, Mu era o Jardim do Édenoriginal e uma civilização tecnologicamente avançada que contava com sessenta e quatro milhões de habitantes. Há cerca de doze mil anos, Mu foi varrida do mapa por um terramoto que a submergiu no Pacífico. Aparentemente, a Atlântida, que era uma colónia de Mu, foi destruída da mesma forma mil anos mais tarde. Todas as principais Civilizações da Antiguidade, da Babilónia à Pérsia, e dos Maias aos Egípcios, seriam o que restou das colónias de Mu. Churchward afirmou que recebera esta sensacional informação na década de 1880, quando era um jovem oficial na Índia e fez amizade com um sacerdote indiano. Este sacerdote disse a Churchward que ele e dois primos eram os únicos sobreviventes de uma ordem esotérica com setenta mil anos, originária de Mu. Esta ordem era conhecida como a Irmandade Naacal.
O sacerdote mostrou a Churchward um conjunto de placas escritas pela Ordem Naacal numa língua antiga esquecida, supostamente a língua original da Humanidade, e ensinou o oficial a lê-la. Churchward insistiu mais tarde que certos artefactos de pedra recuperados no México continham partes das Inspiradas Escrituras Sagradas de Mu, talvez tomando algumas ideias de Augustus le Plongeon e da sua utilização do Codex de Troam para provar a existência de Mu. Infelizmente, Churchwardnunca produziu quaisquer indícios que apoiassem as suas reivindicações: ele nunca publicou traduções das enigmáticas placas Naacal e os seus livros – apesar de ainda hoje terem muitos seguidores – servem mais como entretenimento do que como estudos factuais sobre a Lemúria/Mu.
Os zoólogos e os geólogos explicam agora a distribuição dos lémures e de outras plantas e animais na área dos oceanos Índico e Pacífico como resultante da deriva continental e das placas tectónicas. A teoria das placas tectónicas (e ainda é uma teoria) afirma que placas móveis da crosta terrestre, apoiadas sobre as rochas menos rígidas do manto, causam a deriva dos continentes, actividade vulcânica e sísmica e a formação de cadeias montanhosas. O conceito da deriva continental foi proposto pela primeira vez pelo cientista alemão Alfred Wegener em 1912, mas a teoria só conseguiu uma aceitação generalizada cinquenta anos mais tarde. Com o entendimento recente sobre as placas tectónicas, os geólogos consideram agora a teoria de um continente submerso no Pacífico como uma impossibilidade.
A ideia da Lemúria como algo mais do que um lugar físico, talvez mais semelhante a uma pátria espiritual perdida, parece ter origem nos escritos da ocultista russa Helena Petrovska Blavatsky (1831-1891). Blavatsky foi a co-fundadora (em conjunto com o advogado Henry Steel Olcott) da Sociedade Teosófica em Nova Iorque, em 1875. A sociedade era uma ordem esotérica com o objectivo de estudar os ensinamentos místicos tanto do Cristianismo como das religiões orientais. No seu maciço tomo «A Doutrina Secreta» (1888), Blavatsky descreve uma história que começa há milhões de anos com os Senhores da Chama e discute as cinco raças-raiz que existiram na Terra, cada uma tendo perecido num enorme cataclismo. A terceira destas raças-raiz ela chamou Lemures, que terá existido há um milhão de anos e que eram uns bizarros gigantes telepatas que tinham dinossauros como animais de estimação. Os Lemures acabaram por afogar-se quando o seu continente foi submergido nas águas do oceano Pacífico. A prole dos Lemures foi a quarta raça-raiz, os Atlantes humanos, que foram castigados pelo uso da magia negra, quando o continente da Atlântida se afundou há oitocentos e cinquenta mil anos. A Humanidade actual representa a quinta raça-raiz.
Blavatsky insistiu que aprendeu tudo isto a partir do Livro de Dzyan, supostamente escrito na Atlântida e que lhe foi mostrado pelos adeptos indianos conhecidos como mahatmas. Blavatsky nunca reclamou ter descoberto a Lemúria; de facto, refere-se a Philip Schlater como o inventor do nome Lemúria nos seus escritos. Não se pode deixar de dizer que «A Doutrina Secreta» é um livro extremamente difícil, uma mistura complexa de cosmologias ocidentais e orientais, devaneios místicos e sabedoria esotérica, a maior parte não devendo ser tomada à letra. Blavatsky fez a primeira interpretação oculta da Lemúria, que não deve ser equacionada com o continente físico proposto por Churchward. O que Blavatsky e outros ocultistas têm vindo a sugerir no que diz respeito à Lemúria pode ser interpretado parcialmente como uma condição espiritual ideal da alma, uma espécie de terra espiritual perdida. Contudo, existem psíquicos e profetas que ainda hoje consideram a existência da antiga Lemúria ou Mucomo uma realidade física. De facto, alguns, quando submetidos a uma regressão hipnótica, recordaram vidas passadas como cidadãos do continente condenado.
Yonaguni
Mas a história ainda não se fica por aqui. Nos últimos vinte anos, as civilizações submersas voltaram a ser notícia devido a um conjunto de intrigantes descobertas subaquáticas. Em 1985, ao largo da costa sul da ilha Yonaguni, no Japão, um operador japonês de mergulho turístico descobriu uma estrutura piramidal em socalcos que até aí permanecera desconhecida. Pouco depois, o professor Masaki Kimura (um geólogo marinho da Universidade de Ryukyu em Okinawa) confirmou a existência de um estrutura com cento e oitenta metros de largura e vinte e sete de altura. Este zigurate rectangular faz parte de um complexo de estruturas de pedra submersas que se assemelham a rampas, degraus e pátios, pensando-se que a sua origem pode recuar até entre três mil e oito mil anos no passado. Foi sugerido que estas ruínas são o que resta de uma civilização submersa e que as estruturas representam talvez a arquitectura mais antiga conhecida. Também foram mencionadas ligações com a Lemúria e a Atlântida. No entanto, alguns geólogos que conhecem a zona insistem que as estruturas submarinas são de origem natural e semelhantes a outras formações geológicas conhecidas na região. O debate sobre estas controversas estruturas ainda continua.
Em 2001, as ruínas de uma enorme cidade perdida foram localizadas debaixo de água a trinta e cinco metros de profundidade no golfo de Cambai, na costa ocidental da Índia. Um ano mais tarde foram feitas pesquisas recorrendo à imagiologia acústica e obtiveram-se provas de colonização humana no local, entre as quais os alicerces de enormes estruturas, cerâmica, secções de muros, contas, peças de escultura e ossos humanos. Um dos achados de madeira da cidade foi submetido a testes de radiocarbono e datado de 7500 a. C., o que faz deste local quatro mil anos mais antigo do que a mais antiga civilização conhecida na Índia. As investigações neste fascinante local estão em curso e se as datas estiverem correctas poderemos mudar radicalmente a ideia que agora temos das primeiras civilizações da Terra. Tanto faz que estes achados nos oceanos Índico e Pacífico sejam ou não ruínas de civilizações perdidas, pois uma coisa é certa: o Homem irá sempre procurar uma pátria perdida ou um passado antigo mais satisfatório a nível espiritual. Neste sentido, a Lemúria, ou Mu, será sempre mais do que um mero local físico.
(Paradigma da Matrix http://paradigmatrix.net/?p=8721)
 



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